“Imagine o mundo em 2050, com 10 bilhões de pessoas, todas elas com água limpa, alimentos nutritivos, moradia acessível, educação personalizada, assistência médica de primeira linha, energia à vontade e não poluente.”

Projetar sonhos e futuros distantes nunca foi o meu forte. Objetivos práticos, viáveis e mensuráveis, daqueles que consigo organizar em um passo a passo, são para mim, muito mais confortáveis. Por isso, nos momentos que se fazem necessários utilizar dados sobre tendências para melhor encaminhar um pensamento estratégico, lanço mão de estudos e publicações de instituições de pesquisa.

A visão de mundo para os próximos 10 anos

Todo o início de ano o Fórum Econômico Mundial lança o The Global Risks Report . O documento apresenta os principais riscos globais, definidos como aquele evento ou condição que, se ocorrer, pode causar impacto negativo significativo para vários países ou indústrias dentro dos próximos 10 anos. Estes riscos são organizados em quatro categorias: econômicos, sociais, ambientais, tecnológicos e geopolíticos. Desde 2015, alternam-se entre os 10 principais riscos globais:

  1. Crise fiscal em economias-chave
  2. Alta do desemprego/subemprego
  3. Crise de água
  4. Severa desigualdade social
  5. Falha na mitigação ou adaptação as mudanças climáticas
  6. Maior incidência de eventos climáticos extremos
  7. Fracasso da governança global
  8. Crise de alimento
  9. Falha na governança de instituições financeiras
  10. Instabilidade política e social profunda

A partir de 2015, a pesquisa também começou a apresentar o mapa sobre interconexão entre estes riscos. Esta interpretação inclui a interdependência entre os fatores, para citar um exemplo: como eventos climáticos extremos podem provocar crise de alimentos e de água em determinados países, gerar migração involuntária em grande escala, desencadear o subemprego e desemprego, a instabilidade social e a crise entre os países.

 

Com estas projeções expostas, sugeria duas questões para estimular lideranças e profissionais para a correlação entre sustentabilidade e negócios: O quanto estamos prontos para minimizar riscos ou responder a crises derivadas de desafios socioambientais? Como podemos transformar os desafios socioambientais em oportunidades de negócios?

É de se imaginar, que esta não é a reflexão mais otimista, agradável e fácil para se fazer sobre o futuro, mesmo que muitas vezes, extremamente necessária. Por isso, há algum tempo, comecei a buscar outros cenários possíveis, inspirada pela frase do Prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus. “Nós temos muita ficção científica. Nós deveríamos escrever ficção social. Imaginar o mundo que queremos e depois construí-lo”.

Uma visão de mundo sustentável em 2050

Uma das primeiras perspectivas encontrada foi o Vision 2050 Report .Organizado em 2010, pelo e World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). O documento foi estruturado a partir do trabalho de 29 empresas líderes mundiais e é o resultado de um esforço combinado de 18 meses entre CEOs, especialistas, consultores e diálogos com mais de 200 empresas e partes interessadas em cerca de 20 países.

Organizado em dois horizontes temporais: Anos Turbulentos, de 2010 a 2020, e o Tempo de Transformação, de 2020 a 2050. O relatório indica uma visão de mundo próximo da sustentabilidade, com uma trajetória exequível, que representam extraordinárias oportunidades de negócios para as empresas que adotem a sustentabilidade como estratégia em nove áreas: valores das pessoas, desenvolvimento humano, economia, agricultura, florestas, energia, mobilidade e materiais.

Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável 2030

Mais recente, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, expressam ações em áreas de importância crucial para a humanidade e para o planeta nos próximos 13 anos. No meu ponto de vista, transformam os riscos em uma agenda global positiva, proposta para ser implementada a partir de 2016. Um plano de ação com 17 Objetivos, 169 metas e seus indicadores para guiar todos – governos, sociedade civil, setor privado – ao mundo que queremos em 2030. Não em 2050!

Os ODS foram suportados pelo maior e mais inclusivo programa de consulta da história da ONU, do qual o setor privado era parte importante. A Global Business Alliance para 2030 foi formada durante a assembleia geral da ONU em 2013, reunindo corporações multinacionais a PMEs locais. Os Objetivos foram concebidos a partir de uma visão interdependente e mesclam, de forma equilibrada, as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a social, a ambiental e a econômica.

Tenho utilizado os ODS como cenário para inspirar a visão estratégica de negócios. Os seus desdobramentos oferecem um caminho prático, viável e mensurável para orientar trajetórias. Tem se revelado uma perspectiva mais fértil, inovadora, criativa e fecunda para pensar e produzir. Além disso, ações organizadas e coletivas são particularmente necessárias para esta agenda de desenvolvimento ambiciosa.

Que papéis podem as empresas desempenhar para promover uma evolução mais rápida para o alcance destes Objetivos? Como podemos repensar produtos, serviços, estratégias, modelos de negócios e desenvolver posição de liderança para um mundo mais sustentável? Como podemos fazer mais com menos, criar valor, crescer e prosperar contribuindo para melhorar as condições humanas?

Oportunidades de Mercado para um Mundo Sustentável

 Um estudo recente, realizado pelo PwC , traz dados sobre a disposição do setor privado, de diversas regiões do planeta, em se comprometer com o esforço global dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável: 71% das empresas pesquisadas estão planejando engajar-se nos ODS; 13% delas já identificaram as ferramentas necessárias para avaliar sua contribuição para os ODS; 41% dizem que vão inserir os ODS na estratégia e no modo de conduzir seus negócios num prazo de cinco anos; e 90% dos cidadãos consideram importante a aderência das empresas aos ODS.

No último Fórum Económico Mundial, que aconteceu em Davos, em janeiro de 2017, o Secretário-Geral António Guterres disse: “Sem o setor privado, não teremos a inovação necessária, não teremos a capacidade necessária para descobrir novos mercados, novos produtos e novos serviços. Ser capaz de desenvolver novas áreas na economia.” Ele acrescentou: ” Os melhores aliados hoje no mundo estão provavelmente no setor de negócios e é muito importante mobilizá-los totalmente”.

No mesmo evento, foi lançado o relatório Better Business, Better World , produzido pela World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), com uma proposta de ação aos líderes empresariais utilizando os ODS como referência para o core business. O estudo afirma que alcançar os ODS abrem oportunidades de mercado no valor de US$12trn em quatro principais setores de atividade: alimentação e agricultura, cidades, energia e materiais, saúde e bem-estar.

Investimentos de Impacto

Aos poucos, parece que o falso dilema está ficando velho: “Ou você busca o lucro ou faz negócios do jeito certo”. Os negócios de impacto estão mostrando que é possível melhorar o mundo e ganhar dinheiro ao mesmo tempo. O aumento do volume de investimentos indica o potencial deste mercado.

  • Segundo o World Economic Forum, até 2020 devem ser alocados cerca de US$ 500 bilhões para investimento em negócios sociais em todo o mundo.
  • Para a JP Morgan, os investimentos de impacto serão de US$ 400 milhões a US$ 1 trilhão nos próximos dez anos.
  • O montante investido em negócios de impacto social na América Latina aumentou 12 vezes de 2008 a 2013, alcançando US$ 2 bilhões ao ano, segundo a Universidade de St. Gallen da Suíca.
  • No Brasil, os investimentos do BNDES em fundos de impacto social saltam de R$ 13 bilhões em 2014 para R$ 50 bilhões anuais até 2020.
  • A UBS AG, um dos maiores gestor de riqueza global, em um levantamento recente, informou que dos 270 principais clientes familiares, 30% estão direcionando investimento em negócios de impacto e outros 30%, identificam este como um investimento para os próximos 2 anos.

Considerar as possibilidades de investimentos a um conjunto de negócios que contribuem para o alcance dos ODS é um exercício fundamental para o mercado – existente e potencial – que pode ajudar a resolver uma miríade de problemas sociais e ambientais urgentes do nosso tempo.

 Como as Grandes Empresas Mudam o Mundo

A revista Fortune publicou pela primeira vez em 2015,  “Change the World List”, premiação que reconhece as empresas que tiveram um impacto social positivo através de atividades que fazem parte da sua estratégia de negócio e inovação. São priorizadas empresas com faturamento anual de US$ 1 bilhão ou mais através de três critérios:

Impacto Social Mensurável: o alcance, natureza, e durabilidade de impacto da empresa em um ou mais problemas específicos da sociedade. 2- Resultados de Negócios: o benefício econômico que as iniciativas de impacto traz para a empresa. 3- Grau de inovação: o esforço inovador da empresa e como influenciaram outras empresas do setor a seguir o seu exemplo.

As top 10  “Change the World List” 2015:

1.GlaxoSmithKline

2.IDE Technologies

3.General Electric,

4.Gilead Sciences

5.Nestlé,

6.Nike

7.MasterCard

8.United Technologies

9.Novozymes

10.First Solar

A mudança positiva escalável pode e acontece por meio de corporações grandes, complexas, com fins lucrativos, provocadas pelo investimento empresarial e que também, trazem resultados para a última linha do balanço. Estas são chamadas empresas de valor compartilhado, onde o impacto social é parte integrante da estratégia corporativa como uma forma de obtenção de vantagem competitiva.

Pequenas empresas grandes mudanças

Do ponto de vista macro econômico, os empreendedores são capazes de romper os trajetos da economia e criar novos paradigmas, marcados pela competitividade e pela geração de oportunidades. Isto tem acontecido com a ampliação de um ambiente favorável aos empreendedorismo composto por investidores, aceleradoras, incubadoras, parques tecnológicos e iniciativas que engajam estudantes e universidades.

Neste ecossistema, são colocadas em prática ideias como a BECAUZ , uma causa traduzida em marca de moda consciente, que nasce para ajudar ativa e efetivamente a melhorar o mundo, transformando o consumo em uma nova experiência. Na prática, os consumidores poderão escolher no ato da compra, para qual projeto de evolução humana desejam que parte do lucro da sua compra seja direcionado.

Os empreendedores estão sendo protagonistas ágeis em aproveitar o alinhamento sem precedentes entre fatores econômicos, tecnológicos, sociais e ambientais que constroem mercados e geram possibilidades de crescimento.

 Como solucionamos problemas relevantes do mundo? Ao imaginar novas formas de como o mundo pode funcionar. Na realidade, parece que isso já está acontecendo… “O verdadeiro radical autêntico é aquele que torna a esperança possível, não o desespero convincente”.

Simone Faustini é professora, escritora e atua na Nexus Consultoria com a missão de promover relações sustentáveis entre sociedade, meio ambiente e negócios. www.nexusconsuloria.com

 

Escrito por Nexus