Estamos à beira de uma revolução tecnológica que alterará profundamente a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos uns com os outros. Em sua escala, escopo e complexidade, a transformação será diferente de tudo que a humanidade já experimentou antes. Ainda não sabemos exatamente como isso vai se desdobrar, mas uma coisa é clara: a resposta a ela deve ser integrada e abrangente, envolvendo todos os atores da comunidade global, dos setores público e privado, a academia e a sociedade civil.

Quando comparado com as revoluções industriais anteriores, a Quarta Revolução Industrial está evoluindo em escopo, impacto e em um ritmo exponencial e não linear. Além disso, está afetando quase todos os setores em todos os países. E a amplitude e profundidade dessas mudanças anunciam a transformação de sistemas inteiros de produção, gestão e governança.

As possibilidades de bilhões de pessoas conectadas por dispositivos móveis, com capacidade de processamento sem precedentes, armazenamento de dados e acesso ao conhecimento, são ilimitadas. E essas possibilidades serão multiplicadas por avanços tecnológicos emergentes em campos como inteligência artificial, robótica, internet das coisas, veículos autônomos, impressão 3D, nanotecnologia, biotecnologia, ciência de materiais, armazenamento de energia e computação quântica.

Como as revoluções que o precederam, a Quarta Revolução Industrial tem o potencial de elevar os níveis de renda global e melhorar a qualidade de vida das populações em todo o mundo. Como também, pode gerar maior desigualdade, particularmente em seu potencial de interromper os mercados de trabalho.

Não podemos prever neste momento qual cenário é provável que surja, e a história sugere que o resultado provavelmente será uma combinação dos dois. No entanto, estou convencida de uma coisa – os profissionais de sustentabilidade – tem um papel importante nesta nova era, podendo expandir a sua influência para os campos da inovação e tecnologia.

1.  ANTECIPAR DILEMAS ÉTICOS ORIUNDOS DE BIG DATA

big data pode ajudar a resolver problemas sociais e ambientais das empresas e dos consumidores, como por exemplo, garantir uma melhor rastreabilidade dos produtos em toda a cadeia de suprimentos. Mas uma pesquisa da Marketing Week indica que impressionantes 71% dos consumidores acham que as empresas usam seus dados de maneira antiética. Assim, lidar com dados apresenta uma oportunidade e uma enorme responsabilidade.

Claramente, as empresas precisam manter o controle sobre a privacidade das informações dos clientes, garantindo a segurança e antecipando dilemas éticos. Os profissionais de sustentabilidade podem assumir a ampliação desta responsabilidade, porque faz parte da sua rotina de trabalho estar abertos às opiniões de partes interessadas. Para isso, é importante trabalhar em estreita colaboração com as equipes de tecnologia da informação e digitalização para trazer as questões éticas e colocá-las sobre a mesa.

2. PROMOVER E IMPLEMENTAR APRENDIZAGEM CONTÍNUA

Segundo algumas estimativas, 50% dos empregos na Europa e nos Estados Unidos serão perdidos devido a digitalização e automatização das ocupações de trabalho. O desenvolvimentos tecnológico acelerado implica em reciclar continuamente os funcionários para se manterem atualizados à medida que seus empregos evoluem.

No entanto, os sistemas atuais de educação não estão preparados para atender a tais demandas. De acordo com o relatório do McKinsey Global Institute/ 2017, 60% das empresas relatam que não conseguem encontrar profissionais com as habilidades necessárias para as novas atividades. Ao mesmo tempo, quase 40% dos funcionários sentem que seus empregos não correspondem às suas habilidades.

Os profissionais de sustentabilidade, também podem ajudar aqui, não apenas garantindo que os funcionários recebam treinamentos em áreas como tecnologia, robótica, programação e análise de dados. Mas também, no desenvolvimento de competências sócio emocionais, como: ética, empatia e na forma de lidar com as próprias emoções, dimensões onde um robô não pode competir conosco. Assim como, a incentivá-los a repensar o significado do trabalho, o propósito da empresa e seus papéis individuais.

3.  CRIAR UMA CULTURA DE INOVAÇÃO

Para as empresas, não basta mais apenas melhorar os produtos existentes. É necessário criar novos modelos de negócios, produtos mais sustentáveis e cadeias produtivas circulares. Para incentivar a inovação, os ambientes corporativos precisam oferecer um clima de confiança que aceita erros.

Os profissionais de sustentabilidade podem criar essa cultura de tolerância, estimulando a transversalidade entre as áreas, o incentivo à experimentação e a aceitação de erros como parte do processo para melhorar e inovar. Podem fortalecer ambientes inclusivos, plurais e diversos, onde a convivência e o exercício de se colocar no lugar do outro e entender diferentes pontos de vista, levam ao desenvolvimento de soluções criativas.

4.  CONSTRUIR UM ECOSSISTEMA COLABORATIVO

Apenas 47% das empresas estão engajadas em ecossistemas de inovação com concorrentes, organizações não-governamentais, fornecedores, startups, instituições financeiras, de ensino e órgãos reguladores. Estes ambientes são capazes de gerar mudanças sistêmicas em cadeias de valor, transformar o mercado e acelerar a transição para uma nova economia.

Os profissionais de sustentabilidade geralmente participam de fóruns, conselhos, institutos, eventos e reuniões que facilitam o diálogo dirigido à aprendizagem entre empresas. Agora está na hora de ampliar este convite para líderes e pares de outras áreas se envolverem também. Isso desenvolve uma visão mais abrangente e compartilhada de como a tecnologia pode afetar nossas vidas e remodelar ambientes econômicos, sociais, culturais e humanos.

Nunca houve um tempo de maior promessa ou de maior risco potencial. No entanto, os tomadores de decisão de hoje, estão frequentemente presos no pensamento tradicional linear, ou absorvidos demais pelas múltiplas crises que exigem sua atenção, para pensar estrategicamente sobre as forças de ruptura e inovação que moldam nosso futuro.

Em sua forma mais pessimista e desumanizada, a Quarta Revolução Industrial pode, de fato, ter o potencial de “robotizar” a humanidade e assim, privar-nos de nosso coração e alma. Mas, como partes da natureza humana – a criatividade e a empatia, – também pode elevar à humanidade a uma nova consciência coletiva e moral, baseada em um senso comum de destino. Cabe a todos nós nos certificarmos de que o último prevaleça.

Simone Faustini é consultora, professora, escritora e mentora em sustentabilidade. Atua na Nexus Consultoria, assessorando as empresas à promover relações sustentáveis entre sociedade, meio ambiente e negócios.

Escrito por Nexus