A participação do empregado, motor psicológico que impulsiona o desempenho corporativo está em baixa histórica. Uma pesquisa feita pela Gallup no mundo todo mostra que apenas 13% dos funcionários sentem-se engajados no seu trabalho. Compare esse cenário com o caso da Unilever, cuja força de trabalho de mais de 170.000 funcionários tem um nível de engajamento em torno de 80%. Sendo que 76% destes 170.000 empregados, sentem que seu papel no trabalho contribui com a implementação do Programa de Sustentabilidade da companhia.

Neste artigo, sintetizei as principais IDEIAS e 6 PASSOS de – Paul Polman (CEO da Unilever), CB Bhattacharya (Diretor do Centro de Negócios Sustentáveis da Escola Europeia de Administração e Tecnologia de Berlim) e demais autores –  para fazer da sustentabilidade parte da cultura organizacional.  E como isso contribui para o engajamento dos funcionários das empresas.

 Aproximar valores individuais e organizacionais

Para Paul Polman, a chave para a criação de uma empresa sustentável é “encontrar maneiras de conseguir que todos os funcionários – desde os altos executivos até os trabalhadores da linha de montagem – se envolvam pessoalmente nos esforços diários de sustentabilidade corporativa.” Em geral a reação típica em muitas empresas é: “Sim, a sustentabilidade é importante, mas é trabalho de outra pessoa, e eu tenho outras coisas para fazer”.

Segundo o pesquisador Paul Strebel, os funcionários e as organizações têm obrigações recíprocas e compromissos mútuos que definem suas relações. Iniciativas de mudanças corporativa – como a transição para um modelo de negócios sustentável – exigem a alterações dos termos desses contratos. De maneira que a administração concilie o hiato entre os valores pessoais e corporativos em todas as três dimensões a seguir.

  • Na DIMENSÃO FORMAL, integrar a sustentabilidade em políticas, diretrizes, descrições de cargos, programas de treinamento e na remuneração variável dos funcionários. Isto é, a sustentabilidade precisa incorporar-se ao sistema de governança e nos processos de gestão da organização.

 

  • Na DIMENSÃO PSICOLÓGICA, o desempenho em sustentabilidade precisa ser recompensado e reconhecido por meio de demonstrações simbólicas. Como celebrações, premiações, visibilidade as boas práticas dos funcionários.

 

  • E na DIMENSÃO SOCIAL, é necessário observar se há consistência entre o que a empresa declara sobre sustentabilidade e o que ela pratica. O exemplo é o mecanismo de engajamento principal utilizado pelo líder. Por isso, a coerência da empresa é avaliada no comportamento diário dos seus líderes. Eles praticam o que pregam?

Quando existe um alinhamento entre os valores individuais e corporativos, as pessoas maximizam seu potencial e criatividade. Porque este modelo trabalha com a sensação mais elevada de propósito que o ser humano tem.

OS 6 PASSOS seguintes, indicam ações para FACILITAR a integração da sustentabilidade como parte da CULTURA ORGANIZACIONAL. E como isso contribui para o ENGAJAMENTO dos funcionários das empresas.

6 Passos para integrar a sustentabilidade na cultura organizacional

    

1. Defina o propósito de longo prazo da empresa

A primeira maneira de diminuir a distância entre o individual e o corporativo é enfatizar os interesses de longo prazo da empresa, que são, sem dúvida, mais alinhados com o bem da sociedade e do planeta. Por que ela faz o que faz?  A liderança deverá saber responder essa pergunta.

Este propósito de longo prazo deve ser descrito de modo simples, podendo se tornar um mote ou lema da empresa, como no caso da Unilever, “Tornar rotineiro o modo de vida sustentável” ou da Henkel “Obter mais com menos”. Ele reflete a sua estratégia de negócios e é colocado em prática por meio de um Plano de Sustentabilidade com metas claras.

As empresas podem também aproveitar os benefícios de seus produtos e definir um propósito para as suas marcas, que são o seu fator de crescimento. A Unilever está identificando em todas as suas marcas – incluindo Dove, Lifebuoy, Domestos, Knorr e Vaseline – a sua causa social. A partir disso, desenvolver projetos específicos para colocá-las em ação.

Refletir sobre o propósito social da empresa permite ao funcionário se associar a algo maior e usar a empresa como meio de expressar seus valores, o que, por sua vez, confere sentido ao local de trabalho e a sua própria atividade.

2. Explique a importância econômica da sustentabilidade

Ajudar os empregados a ver a importância econômica para operar de uma forma sustentável é crucial.

Neste ponto, a empresa precisa encontrar formas de estabelecer uma relação clara entre sustentabilidade, negócios e resultados. Quando os resultados da sustentabilidade são de fácil compreensão, ajuda a angariar e sustentar o suporte da liderança das unidades de negócios e aumentar o engajamento dos funcionários.

O Plano de Sustentabilidade da Unilever 2020, visa o dobro do seu crescimento enquanto reduz para metade os gases de efeito estufa, água e a pegada de resíduos em todo o ciclo de vida de seus produtos. Ao longo dos últimos quatro anos, as economias em produtividade da empresa chegaram a quase U$ 400 milhões, que a prepara para o alcance dessa meta. A Unilever estima que seus programas de eco eficiência tem economizado cerca de U$130 milhões em custos de energia, U$ 240 milhões em despesas com materiais, U$22 milhões em despesas de água e U$ 13 milhões na eliminação dos resíduos.

A DuPont relatou 9,8% de crescimento de receitas entre 2007-2011, sendo que o crescimento do portfólio da empresa em produtos com atributos de sustentabilidade cresceu a 5,5 vezes, essa taxa agora representa 30% da receita total.

O início implica em maior dedicação para estruturar pesquisa, compilar dados e sistematizar informações que refletem como uma estratégia de negócio sustentável podem gerar valor em três aspectos principais:

 

Criar valor compartilhado une propósito e valor. E facilita a visão da independência entre os sistemas econômicos, da sociedade e da natureza.

3. Crie conhecimento e competências em sustentabilidade

Muitas iniciativas de sustentabilidade requerem conhecimento especializado e experiência – como conversar com fornecedores sobre compras sustentáveis ou usar uma ferramenta de eco eficiência para avaliar um novo produto.

Não é de admirar, então, que empresas tão diversas como a BASF, a IBM, a Marks & Spencer e a Nestlé tenham investido fortemente em treinamento e desenvolvimento, bem como, em sistemas e processos que permitam tomar decisões de sustentabilidade em grande escala.

Isto significa, inserir conteúdos sobre a visão e as práticas de sustentabilidade da empresa nos programas de desenvolvimento profissional existentes na organização.

Desde o momento da integração, em capacitações por áreas e em cursos de desenvolvimento de lideranças. Além de conhecimentos específicos para colocar um projeto de sustentabilidade funcionando. Mas em especial, deixar claro o papel e a expectativa de desempenho que um negócio sustentável exige de um profissional.

4. Co-crie práticas de sustentabilidade com os funcionários

Isto começa com as lideranças. Na Unilever os executivos são convidados a escolher um dos maiores desafios de sustentabilidade da Unilever ligados ao crescimento do negócio – como a escassez de água, a terceirização sustentável ou o empoderamento das mulheres –  e pensar soluções coletivas.  Isto ajuda no pensamento estratégico da sustentabilidade.

No entanto, a co-criação deve ser cultivada em todos os níveis e geografias da organização. Um bom exemplo disso é o da Marks & Spencer, que hoje trabalha com caixas recicláveis para roupas em suas lojas e desse modo gera renda para a Oxfam. As caixas foram ideia de um funcionário que teve o apoio do conselho resultando em grande sucesso.

Também é possível estimular a cooperação entre as equipes. Formar times interdisciplinares, de diferentes áreas, regiões e países para encontrar soluções sobre dilemas de sustentabilidade da empresa.

Uma iniciativa lançada pela BASF em 2015 oferece a todos os funcionários a oportunidade de se juntar a uma equipe, desenvolver um projeto de voluntariado corporativo em uma das três principais áreas da BASF – alimentos, energia inteligente e vida urbana. Os funcionários em todo o mundo podem votar nos projetos favoritos. Na última edição, os projetos vencedores incluíram fornecer água potável na África, apoiar refugiadas no Sri Lanka e apicultura na América do Norte.

No momento em que os funcionários da empresa começarem a ver o impacto positivo e os retornos econômicos dos investimentos sociais e ambientais que ajudaram a criar, eles acreditam que têm um papel a desempenhar, aí então as ideias fluirão. Se reforça a proposta de valor do empregado e a finalidade social do negócio.

5. Torne a sustentabilidade visível dentro e fora da empresa.

Pode começar, dando visibilidade para as pessoas engajadas nas organização. Um dos importantes prêmios anuais da Unilever é a “Equipe que fez a diferença” no incentivo à vida sustentável. Outro prêmio anual, chamado “Unilever Heroes”, reconhece os funcionários que foram indicados por seus colegas de trabalho.

Além disso, medir e comunicar o progresso dos principais indicadores de sustentabilidade sempre atrai a atenção das pessoas. Estes resultados podem ser compartilhados em relatórios de sustentabilidade, painéis e webcasts com os empregados.

Mas as métricas não substituem os símbolos, que também são importantes. A Marks & Spencer utiliza imagens em abundância para incentivar os funcionários a subir pelas as escadas em vez do elevador. Na Unilever, avisos em banheiros são usados ​​para envolver os funcionários na finalidade social de Domestos. Nos seus restaurantes, no Dia Mundial da Alimentação, os funcionários recebem as mesmas refeições que as crianças dos países em desenvolvimento, oferecidas pela Knorr em parceria com o Programa Mundial de Alimentos da ONU.

Também é importante celebrar o sucesso quando os objetivos são atingidos ou prêmios conquistados. Os funcionários precisam sentir que são reconhecidos no seu papel para a obtenção de metas. Isto reforça a sua determinação e a identificação com a empresa.

6. Deixe claro: a mudança é coletiva

Nenhuma empresa pode operar a mudança por conta própria. Temos que aprender a colaborar com os concorrentes, governos e ong’s para solucionar problemas relevantes do mundo. Isso forja uma percepção de unidade entre os empregados, porque percebem que a sustentabilidade não é algo que diz respeito a eles apenas, ou mesmo à sua empresa. É uma necessidade global.

Por isso, muitas empresas se comprometem com pactos nacionais ou internacionais como: Pacto Anticorrupção, Pacto Global, Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e outros específicos do seu setor de atividade. No Brasil grandes empresas varejistas e a ABVTEX organizaram o Programa de Qualificação de Fornecedores, para capacitar e monitorar as confecções de costuras visando combater o trabalho irregular em toda cadeia produtiva do segmento.

A Unilever e a Tesco lideraram o Fórum Global de Bens de Consumo – uma rede de cerca de 400 varejistas, fabricantes e prestadores de serviços – que estabeleceu as bases para a formação da Aliança Tropical das Florestas. Uma parceria global que reúne governos, setor privado e organizações da sociedade civil com o compromisso de eliminar o desmatamento no óleo de palma, carne, soja e papel. O trabalho dessas coalizões culminou em 2014 na Declaração de Nova York das Nações Unidas sobre Florestas, que prometeu acabar com a perda global de florestas até 2030.

Negócios sustentáveis são ancorados em causas significativas

As pessoas querem trabalhar em organizações dirigidas por valores, que as vejam em sua plenitude, oferecendo oportunidades que dão significado e propósito às suas vidas. Contudo, muita gente passa a maior parte de suas horas de trabalho em locais que não lhes permitem atingir esse objetivo.

As empresas que conseguem facilitar esta conexão entre o significado individual com o organizacional, estão no topo das pesquisas de lucratividade e popularidade, porque se beneficiam com uma força de trabalho altamente engajada e orgulhosa de pertencer.

Negócios sustentáveis estão ancorados em causas significativas, com as quais vale a pena se comprometer em alto nível. Oferecem esta oportunidade para que as pessoas possam desempenhar por meio da sua contribuição individual mudanças positivas a favor do coletivo, ao mesmo tempo, que geram resultados de importantes para a empresa.

Simone Faustini é professora, escritora e atua na Nexus Consultoria, assessorando as empresas a promover relações sustentáveis entre sociedade, meio ambiente e negócios. www.nexusconsuloria.com

 

 

Escrito por Nexus