Como manter a TERRA VIVA? Sobre esta questão Ailton Krenak (líder indígena, ambientalista, escritor, professor honoris causa, com participação relevante da Constituinte/88) e Antônio Nobre (agrônomo, ecologista, cientista da Terra e profundo conhecedor da realidade ambiental da Amazônia), dialogaram em um sábado de sol na Escola Schumacher. O primeiro, representando o saber tradicional e o segundo, o saber científico.

Sem apresentações de títulos, feitos e as vaidades do ego, cada um ouviu e reverenciou a trajetória do outro. Ali na nossa frente, presenciamos a humildade que é capaz de unir ciência e espiritualidade, racionalidade e intuição, com diferentes perspectivas sobre uma dura realidade: o nosso distanciamento frio e impiedoso da natureza.

“Ficamos procurando vida fora do nosso planeta, como se fossemos capazes de criar algo mais incrível do que as condições ideais de vida na terra. Que não foram encontrados em nenhum outro corpo celeste. Esquecemos que a natureza levou aproximadamente 4,5 bilhões de anos para que pudéssemos chegar ao equilíbrio alcançado pelo planeta terra – com os exatos 21% de oxigênio na atmosfera – necessários para a sobrevivência de seres vivos.”

Atualmente não vivenciamos a nós mesmos como parte da natureza, mas como uma força exterior destinada a dominá-la e a conquistá-la. A nossa incrível arrogância fez com que pensássemos e nos acostumássemos com a ideia de que estamos aqui para nos servir do planeta terra e convencemos os outros a explorar a terra por nós. Estamos numa batalha contra a natureza, esquecendo-nos de que se ganharmos a batalha, nós seremos os principais derrotados.

E neste intento, estamos obtendo sucesso a cada ano com maior antecedência. O dia 1º/08/18 marcou a data em que consumimos mais recursos do que o planeta é capaz de regenerar em um ano. Nosso resultado “superou a meta”, obtida ainda mais cedo, que o ano anterior.

A natureza é em seu conjunto, antes a comunhão de sujeitos do que a coleção de objetos. Ela se auto organiza em séries de múltiplos níveis de redes dentro de redes, como células dentro de tecidos, dentro de órgãos, dentro de organismos, dentro de ecossistemas, onde nenhum nível é mais fundamental que o outro. É necessário substituirmos a noção de controle e exploração para construirmos uma relação frutífera com a natureza – onde a parceria – é claramente mais apropriada e é de fato a única opção disponível.

“Onde há florestas não há seca, nem excesso de água, nem furacões, nem tornados. É como uma apólice de seguros.”

Honrando a sabedoria desses dois seres humanos generosos que tocaram meu coração e o meu senso de responsabilidade, compartilho com vocês os aprendizados de mais esta experiência.

Simone Faustini é consultora, professora, autora e mentora em sustentabilidade. Atua na Nexus Consultoria, assessorando empresas a promover relações sustentáveis entre sociedade, meio ambiente e negócios. 

Escrito por Nexus