Uma “pesquisa de pulso” realizada pela PwC na semana passada (16 a 20/03/20) com os principais executivos de empresas no México e nos EUA, indicou que o Covid-19 é a sua principal preocupação no momento. 90% dos 50 líderes entrevistados consideraram que seus negócios se recuperariam em três meses, caso o surto terminasse imediatamente. Hoje, essa possibilidade parece muito improvável.
As especulações dos impactos negativos sobre os negócios continuam em aberto, mas agora mais do que nunca, o compromisso da responsabilidade corporativa e do propósito das empresas serão postos à prova. Bons exemplos estão surgindo no exterior. No Reino Unido, a rede de supermercados Morrisons deu a seus fornecedores garantias de pagamento imediato.
Na França, a empresa de luxo Louis Vuitton Moët Hennessy pediu às fábricas que normalmente produzem perfumes e cosméticos para Christian Dior, Guerlain e Parfums Givenchy, que passarem a produzir o gel higienizante para as mãos, que será distribuído gratuitamente para hospitais franceses. Enquanto a marca francesa L’Oréal lançou um programa de distribuição de alimentos e desinfetante das mãos para hospitais e casas de repouso.
No Brasil, na última quinta-feira (17/03/20), O Boticário anunciou a doação de 1,7 tonelada do produto álcool etílico 78% para a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba/PR. A empresa tem cumprindo os protocolos de saúde e segurança estabelecidos pelas autoridades e agências de cada estado e cidade em que atua. Além disso, tem colaboradores em home office, reduziu drasticamente os que precisam estar fisicamente na empresa, revisou o modelo de turnos e formatos de operação nas fábricas e centros de distribuição e remodelou o funcionamento de refeitórios. Também, interrompeu algumas operações de varejo, reduzindo horários de funcionamento para alternar equipes, evitando movimentações em horários de maior concentração de pessoas.
O Ex-CEO da Unilever Paul Polman, que co-fundou a Imagine, uma empresa para estimular lideranças empresariais para atingir as Metas Globais de 2030, nas últimas semanas dedicou a sua atenção a essa ameaça mais imediata. Para ele, que realiza a articulação entre a Câmara Internacional de Comercio e a ONU, é necessário trabalhar em um maior nível de parceria entre os setores público e privado para resolver a pandemia.
“Este é um momento em que todos precisamos nos reunir, e há muitas maneiras diferentes de fazer isso, fornecendo licença ou assistência médica, benefícios mínimos, reduzindo descontos em pagamentos, ou pagando mais rapidamente empresas menores nas cadeias de suprimentos para contribuir com o seu fluxo de caixa e evitar falência em escala”.
Para ele, as empresas não devem apenas fazer a coisa certa para ajudar a proteger os vulneráveis, mas que este momento pode ser um ponto de inflexão real sobre quem são e como devem agir as empresas responsáveis.
No dia 24/03 terça-feira, Polman é um dos 40 líderes de opinião, incluindo Lise Kingo, CEO da ONU Global Compact, Peter Bakker, CEO do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, e Gilbert Ghostine, CEO da empresa suíça de aromas Firmenich, para participar da conferência online GoodafterCovid19, discutindo como o mundo pode ser remodelado para melhor depois que a pandemia terminar.
Esta é uma a oportunidade para as empresas recuperarem a confiança, que tem seu nível de credibilidade em baixa recorde segundo a mais recente pesquisa da Edelman Trust Barometer, lançada em janeiro 2019. Que revelou que a 56% dos entrevistados globalmente acreditam que o capitalismo em sua forma atual está fazendo mais mal do que bem.
Por outro lado, uma pesquisa separada feita por Edelman no início do mês de março/20 constatou que em oito dos 10 países pesquisados – Brasil, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, África do Sul, Coréia do Sul, Reino Unido e EUA – “meu empregador” é visto como mais preparado para combater o vírus do que “meu país”, com 62% dos entrevistados confiando nos empregadores para responder de maneira eficaz e responsável ao vírus.
Esse é um teste ácido para as empresas que norteiam seus negócios com base no capitalismo consciente, e é muito importante que sejam aprovadas.
Simone Faustini é consultora, facilitadora, escritora e mentora em sustentabilidade. Atua na Nexus Consultoria, assessorando as empresas a promover relações mais humanas e sustentáveis entre sociedade, meio ambiente e negócios.
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