Em Santa Catarina, estado onde moro, estamos há 5 dias em estado de emergência decretado pelo Governador. Reclusa dentro de casa tenho retomado as atividades e os hobbys que há muito tempo havia deixado de lado: livro de pintura com caixas numerosas de lápis de cor, pintura sobre tela, aquele instrumento que sempre quis tocar, todos presentes dos meus filhos. Essas expressões de arte perderam a prioridade na disputa do meu tempo, frente as demandas diárias e urgentes de ser empreendedora,

Neste final de semana foi o dia da faxina. Abri as gavetas e encontrei muita coisa antiga e ultrapassada que não me servem mais. No entanto, outros tantos estudos e projetos que são surpreendentemente atuais e úteis, que agora, podem servir de inspiração do fazer daqui para adiante.

O fenômeno do corona vírus, no mais profundo, é uma sirene de emergência que toca incessantemente e nos alerta que precisamos parar, olhar e reavaliar. O que tem sido negligenciado e deixado de lado? O que é necessário nos desfazer e desapegar porque são padrões ultrapassados e não nos servem mais? E o que precisa ser tirado da gaveta, porque agora chegou a sua hora?

Entre tantas ponderações possíveis sobre esse momento em que vivemos, divido com vocês, os questionamentos e as reflexões que surgiram enquanto arrumava as gavetas da minha casa.

• SENTIMENTOS: o quanto estamos conscientes das emoções que foram jogadas para debaixo do tapete e nos porões do inconsciente? Anestesiados com tantas compulsões que se manifestam em forma de fazeres assoberbados, mídias, comida, consumo, racionalidades, rótulos, status, cargos, reconhecimentos, competição? Quais dores emocionais carrego comigo e que agora é chegada a hora de olhar, acolher e entrar em um bom acordo com elas? O quanto consigo olhar para dentro de mim? Quais sentimentos me impedem de aquietar a mente e o coração? O quanto desprezamos as nossas próprias emoções, caindo na armadilha de também considerá-las mimimi?
• VALORES: ética, empatia, cuidado, respeito, compaixão, colaboração, espiritualidade. Todos princípios que foram relegados a última prioridade nos relacionamentos humanos e com a natureza nos últimos séculos. A certa altura adotamos a visão individualista, materialista, mecanicista, reducionista e utilitarista, onde nos sentimos no direito de atribuir valor ao outro e à natureza e nos servir deles. Somos inclinados a tratar como pouco importante tudo o que não foi feito por nós mesmos, como: os rios, as florestas, a biodiversidade, o ar puro, a temperatura que possibilita a vida, assim como, o mérito da existência da vida das outras pessoas. Agora é hora de pagar essa fatura, a natureza e a humanidade estão cobrando a sua conta! Como amenizar os juros? Retomando uma visão holística, integrativa, regenerativa, de conservação, de parceria, da ecologia profunda. Lembrando, que somos todos, inclusive a natureza, “antes uma comunhão de sujeitos do que uma coleção de objetos”.
• SUSTENTABILIDADE: interdependência, coletivo, “e” ao invés do “ou”, equilíbrio, comunidade, desenvolvimento, impacto positivo, remodelação, gestão ambiental, produtos sustentáveis, nova economia, economia circular, economia de baixo carbono, economia criativa e solidária, negócios responsáveis, negócios sustentáveis, novos modelos de negócios. HORA DE TIRAR DA GAVETA!! Repito: HORA DE TIRAR DA GAVETA todos esses projetos que foram relegados na ordem de prioridade das organizações. A atividade econômica e a reserva de capital são fundamentais. Podemos agora, honrar nossos compromissos, pagar nossos fornecedores, adiar ao máximo a demissão de colaboradores, entregar o que prometemos aos clientes, ter um fôlego e um tempo maior de sobrevivência. No entanto, o paradigma de economia, de negócios e de relação comercial que nos trouxe até aqui, não nos levará adiante. Muitas empresas já perceberam isso, e agora estão mais preparadas para se posicionar, colaborar, inovar e reagir a essa crise. Aqui não cabe julgamentos e críticas. Cabe ação e cooperação.

E você, tem arrumado as suas gavetas? Compartilha comigo as suas reflexões nos comentários!

Simone Faustini é professora, escritora e atua na Nexus Consultoria, assessorando as empresas a promover relações mais humanas e sustentáveis entre sociedade, a natureza e os negócios. www.nexusconsuloria.com