Se um pacote de remuneração não reflete métricas voltadas a sustentabilidade, como podemos falar de governança socioambiental ou incorporar a sustentabilidade à estratégia de longo prazo da empresa com a uma visão 2030?

Os executivos podem ser incentivados a pensar além dos resultados financeiros de curto prazo e também considerar os fatores ASG que afetam a reputação, a competitividade e, em última análise, a lucratividade do negócio ao longo prazo.

A remuneração atrelada a métricas de sustentabilidade pode ser incluída nos planos anuais de bônus / incentivos de curto prazo, como refletidas nos planos de incentivos de longo prazo, definindo não apenas pagamento em dinheiro, mas também prêmios em ações.

 

Quem tem sido responsável pelos incentivos?

 

Os membros do conselho, comitês de governança e acionistas são os principais impulsionadores de mudanças nas questões ASG, assumindo a atribuição para definir as metas e modelos de remuneração para altos executivos, e isso tem acontecido pela maior compreensão sobre:

  • O risco das mudanças climáticas e necessidade do seu enfentamento por todas as empresas globalmente;
  • A crescente consciência de que questões intangíveis, como capital humano, reputação da marca e cultura corporativa são direcionadores de valor de longo prazo que precisam ser gerenciados;
  • Crescentes expectativas do cliente e da sociedade relacionados a conduta ASG;
  • Crescimento do investimento que considera o perfil ESG das empresas.

 

Cuidado com enfoque simplista!

 

Precisamos ser cautelosos com um enfoque simplista na remuneração dos executivos.

Porque que nem todos os resultados ASG podem se manifestar num horizonte de três a cinco anos, como também, há a dificuldade de mensurar riscos e iniciativas que são interdependentes e sistêmicos. Dessa maneira, a maturidade das métricas que serão utilizadas como referência para avaliação precisam passar por uma análise criteriosa.

  1. Algumas empresas optam por metas ASG estabelecidas e mensuradas internamente. Como por exemplo medidas relacionadas a taxa de acidentes de funcionários, ou satisfação do cliente, ou uso de energia, ou medidas mais amplas de avanço do plano de sustentabilidade.
  2. Outras optam por colocar a métrica vinculada a índices externos. Por exemplo, o prêmio de ações de longo prazo vinculado ao desempenho da avaliação de clima do CDP. Outro exemplo é obter o reconhecimento em sustentabilidade de instituições que fazem uma avaliação séria nesse campo. No entanto, tal abordagem coloca o plano de incentivos ao arbítrio das agências de classificação – um ajuste na metodologia ou na sua ponderação – pode ter consequências significativas.

 

Abaixo você poderá analisar algumas abordagens de diferentes empresas obtidas através de pesquisas em seus documentos públicos. Um tema comum deve ser observado, a maioria dos exemplos são de grandes empresas europeias, companhias de outras regiões e de menores portes têm demorado mais para responder a essa tendência crescente.

No entanto podem servir de exemplos e inspiração para você e a sua empresa pensar em planos de incentivos atrelados a metas ASG que devem ser derivadas sempre de uma boa estratégia e plano de sustentabilidade.

5 exemplos de como atrelar remuneração variável ao desempenho ASG de executivos

 

  1. O Royal Mailé um exemplo de empresa que inclui métricas com foco no funcionário e no cliente em seus incentivos de curto prazo. Em 2019, a empresa propôs uma estrutura de bônus simplificada, com base em 75% de métricas financeiras e 25% não financeiras. No entanto, seu plano de incentivo de longo prazo permanece baseado em métricas financeiras.

  1. A Intel(empresa americana) alinha seus incentivos de curto prazo com as métricas ASG indicadas em 50% do bônus anual baseado em “metas operacionais”, que embora não estejam especificadas no quadro, incluem metas relacionadas à diversidade, inclusão, experiência dos funcionários e, a partir de 2020, mudanças climáticas e gestão da água.

 

  1. A Danonevincula seus incentivos de curto e longo prazo a fatores ASG. A sua remuneração variável anual é ponderada em três elementos: económica (60%); social e ambiental (20%); e gerencial (20%). Em 2020 os aspectos sociais e ambientais foram concedidos com base em fortes resultados de engajamento dos funcionários com a sustentabilidade, o compromisso climático e resultados sólidos e contínuos na pesquisa do clima do CDP.

 

  1. A Shellincluiu métricas de “desenvolvimento sustentável” em seus incentivos de curto prazo por vários anos tais como desempenho de segurança e desempenho de gases efeito estufa. Em 2019, a Shell respondeu à pressão de acionistas acrescentando uma meta de “transição de energia” em seus incentivos de longo prazo. A medida é baseada em redução na pegada de carbono líquida da Shell (uma nova medida de intensidade de carbono que inclui emissões de clientes), bem como, no crescimento em energia, biocombustíveis e esforços de captura de carbono pela Shell.

 

  1. A Unileveré outro exemplo de empresa que criou um “índice” composto por medidas de sustentabilidade em seus incentivos de longo prazo, conhecido como “Índice de Progresso em Sustentabilidade”, com peso de 25%. Após a introdução do índice em 2017, a Unilever enfrentou resistência dos investidores, que queriam maior transparência na forma como o índice era calculado. Posteriormente, o Conselho concordou em publicar um Relatório Anual de Progresso, sobre o desempenho em relação aos principais elementos do Plano de Sustentabilidade da Unilever, bem como classificações externas.

Para garantir um incentivo eficaz, as empresas precisam estar cientes dos riscos e oportunidades ASG incorporados no planejamento estratégico, ter uma compreensão dos seus principais aspectos materiais, estruturar a sua capacidade de resposta às prioridades das partes interessadas e desenvolver uma cultura que garanta que a sustentabilidade se reflita na tomada de decisões do dia a dia.

Na Nexus Consultoria em Sustentabilidade apoiamos nossos clientes dedicando tempo para entender seu ambiente de negócio e orientá-los nesse processo relevante da governança socioambiental.

 

Simone Faustini é consultora, facilitadora, escritora e mentora em sustentabilidade. Atua na Nexus Consultoria assessorando as empresas a promover relações mais humanas e sustentáveis entre sociedade, meio ambiente e negócios.

 

Escrito por Nexus