As empresas que olham para o longo prazo – 2030 e além – e dominam a integração dos riscos e oportunidades ambientais, sociais e de governança (ASG) vinculados à estratégia criarão resiliência para prosperar na próxima década.
O princípio aqui é simples: a sustentabilidade é uma estratégia de negócios inteligente de longo prazo. Cada vez mais, também, é uma estratégia inteligente de curto prazo. Por que?
POR QUE SUSTENTABILIDADE É UMA ESTRATÉGIA INTELIGENTE?
Porque o gerenciamento eficaz de oportunidades e riscos ASG contribui para a criação de valor comercial por meio de ofertas de produtos e serviços sustentáveis que aumentam a receita e constroem a confiança dos clientes.
- A ecoeficiência reduz custos operacionais.
- O alinhamento de valores e o desempenho ASG são cada vez mais importantes para atrair e reter os novos talentos, o que por sua vez, impulsiona a produtividade e a inovação.
- O investimento na comunidade reforça a licença social para operar e pode ajudar a proteger as fontes de abastecimento – ao mesmo tempo – que gera um impacto positivo na sociedade.
- O forte desempenho ASG desbloqueia cada vez mais capital, seja como um sinal de boa gestão para os investidores, seja por meio de empréstimos ou títulos vinculados à sustentabilidade.
Esta década colocou em curso uma transformação acelerada devido à digitalização, inteligência artificial, big data, futuro do trabalho, poder do consumidor, remodelagem das cadeias de abastecimento globais e expectativas crescentes de que as empresas forneçam desempenho e valor ASG para as partes interessadas.
Para otimizar o valor de curto prazo por meio do ESG, enquanto constrói uma estratégia de longo prazo para negócios conscientes e sustentáveis, as empresas precisam tomar decisões inteligentes sobre o que priorizar. E aqui seguem duas possibilidades de abordagem de priorização:
ABORDAGENS DE PRIORIZAÇÃO ESG E EM ESTRATÉGIAS DE NEGÓCIO
1. Planejamento ousado que define a direção e identifica as vitórias a serem alcançadas no longo prazo com base em cenários e tendências que modelam o futuro.
2. Planejamento que prevê ações que promovem vitórias de curto prazo e fornecem as bases para objetivos e metas de longo prazo.
A abordagem que uma empresa adota depende da sua cultura, dos incentivos e dos processos de negócios, do grau de maturidade do seu planejamento estratégico e do nível de consciência sobre aspectos ESG e – geralmente reflete – o ritmo de mudança do seu setor como um todo.
Para qualquer decisão inteligente que integre ASG, aqui estão 8 etapas e as perguntas-chave a serem feitas em cada fase:
8 ETAPA PARA INTEGRAR ASG À ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO DE LONGO PRAZO
1.Faça as perguntas difíceis sobre o futuro através de uma lente que integra riscos e oportunidades ASG.
- Como será nosso contexto operacional e de negócios em 2030?
- Quais são as macrotendências críticas que moldam esse contexto?
- Quais são os cenários plausíveis? Quão confiantes estamos nesses cenários? Com base em quais evidências?
- O que será necessário para que nosso negócio permaneça relevante?
- Como gerenciamos riscos corporativos e cenários de curto e longo prazo?
- Incorporamos efetivamente o ESG aos processos internos?
2. Fundamentar a estratégia de longo prazo em seu propósito como empresa.
- Por que existimos, além do lucro?
- Qual é a principal contribuição que fazemos ao mundo por meio de nossas capacidades e ativos?
- Em 2030, ainda será essa a razão de nossa existência, dadas as mudanças que sabemos que estão por vir?
3. Compreender os diferenciais atuais e potenciais para o negócio.
- Como as prioridades ESG se alinham e aprimoram as principais capacidades e diferenciais do negócio?
- O que diferencia os negócios hoje e onde precisamos nos diferenciar para vencer em 2030?
4. Definir e priorizar riscos e oportunidades materiais em ESG.
- Quais são os aspectos sociais, ambientais e de governança materiais e extremamente importantes para a criação de valor de longo prazo para o negócio e para nossos nossos stakeholders?
- Isso muda se olharmos para dez anos ou mais, em vez de um a três anos?
- Como estamos atuando em questões materiais em relação aos padrões, estruturas, índices e classificações ESG de clientes?
5. Defina sua visão e ambição para cumprir seu propósito até 2030.
- Dado o contexto para 2030, nossa estratégia de crescimento comercial, diferenciais e nossas questões ESG materiais, qual é o impacto que almejamos como um negócio consciente e sustentável?
- Qual é a nossa ambição para 2030?
- Como reuniremos a soma de nossas capacidades para acelerar em direção a um planeta mais justo e habitável, ao mesmo tempo que agregamos valor para nossos acionistas?
- Considerando o que está em jogo na próxima década, estamos nos esforçando o suficiente?
6. Defina metas e compromissos, alinhados ao nível de ambição.
- Considerando as questões ESG materiais, onde temos a ambição de liderar e onde – se for possível – queremos simplesmente permanecer competitivos ou gerenciar as questões que “estiverem em pauta”?
- O que vamos alcançar (metas), até quando (prazos), medido por quais KPIs (indicadores)?
7. Incorpore o plano de sustentabilidade no sistema de governança e gestão
- Como criaremos recursos para nosso plano, considerando Capex, Opex, pessoas e tempo?
- Onde estão nossas primeiras vitórias?
- Como podemos incorporar o plano de sustentabilidade na governança, gestão, incentivos de desempenho dos executivos e ciclos de planejamento de negócios.
- Onde podemos alavancar os processos existentes e onde precisamos criar novos?
8. Enfrente os fatos reais sobre a cultura.
- Quais mudanças, se houver, precisamos fazer em nossa cultura para agregar valor de forma consciente e sustentável a longo prazo?
- Temos um plano para cumprir nossas metas ASG, mesmo se houver mudanças significativas como por exemplo: crises, mudanças de liderança, aquisições, alienações, mudanças de propriedade?
- Sabemos quando e como realinhar objetivos e recursos internos?
DICAS PRÁTICAS DE COMO CONDUZIR OS 8 PASSOS DENTRO DA ORGANIZAÇÃO
- Faça um grupo de trabalho que reuna gestores das áreas de planejamento estratégico, recursos humanos, operações, comercial/mkt, inovação, ambiental e jurídico e pelo menos um patrocinador da alta liderança da empresa.
- A cada encontro leve subsídios, fundamentação teórica, estudos que possam ser úteis como fonte de alinhamento conceitual, de contexto, inspiração e de exemplos sobre cada um dos tópicos acima.
- Nos exercícios de reflexão sobre os grandes temas orgazinados acima utilize dispositivos que estimulem a participação ativa, auxiliem a troca de pontos de vista e sistematizem o raciocínio do grupo, como por exemplo, ferramentas do desing think, learning 3.0 e metodologia ágil.
- Registre os resultados de compreensão de cada encontro. Utilizando-o para a abrir a próxima reunião e para envolver outras lideranças e pessoas-chave no processo.
- Lembre-se, o pensamento muitas vezes não é linear. Embora tenhamos relacionado acima pontos chave para a discussão. É possível que vários aspectos sejam tratados ao mesmo tempo e/ou que a conclusão de algum tópico só seja compreendida após 2 ou 3 encontros.
- Não se intimide frente a manifestações como críticas relacionadas ao método de trabalho, ao tempo, a agenda, a prioridade do assunto. Olhe esses elementos como parte da resistência da cultura organizacional. Embora é lógico, todos estejam em um rítmo acelerado de trabalho.
- Conquiste a cada dia pessoas chave que gostariam de fazer parte dessa discussão e contribuirão para o enriquecimento da visão de futuro da organização.
- Para conquistar alta lideranças para o assunto, que tal convidar um outro líder comprometimento com uma estratégia de negócio atrelada a aspectos ASG de uma organização reconhecida, para fazer uma abertura, um fórum, um café virtual? As vezes lideranças só ouvem seus pares.
- Lembre-se o tempo da organização não é o nosso tempo. As vezes, até que a empresa alcance a maturidade necessária para integrar aspectos ASG à sua estratégia de negócio, são necessários anos. No entanto, reconheça as conquistas individuais que podem acontecer isoladamente.
COMO OCORRE A EVOLUÇÃO DA ORGANIZAÇÃO?
A evolução da organização não ocorre aos saltos do dia para a noite. Na natureza nada acontece assim. /Quando plantamos uma semente, ela não se torna um árvore de um dia para o outro. A consciência humana evolui em estágios sucessivos. Estágios mais avançados são formas mais complexas de lidar com o mundo.
E o que desencadeia a transição de um estágio de consciência posterior e mais complexo?
O gatilho sempre vem a partir de um grande desafio que não pode ser resolvido com a visão de mundo atual. Quando enfrentamos tal desafio, podemos escolher entre duas abordagens:
- Amadurecer para uma perspectiva mais complexa que ofereça uma solução para o problema.
- Tentar ignorar o problema, nos agarrando mais fortemente a visão de mundo existente, ou ainda, a uma visão de mundo anterior e mais simplista.
Estamos vivendo um momento ímpar que tem disparado o gatilho para reinventar a forma como fazemos negócios e agimos em sociedade e na relação com a natureza.Integrar aspectos ASG na estratégia dos negócios precisa ser encarado como um novo estágio de realização das organizações, de ordem cognitiva, psicológica e moral.
Experimentar uma nova visão enquanto se administra um empreendimento exige coragem. Ninguém pode ser forçado a evoluir mesmo com as melhores das intenções. Por isso, o respeito ao ritmo e ao processo único de cada organização é uma premissa.
Quando olhamos para a estrutura de uma empresa, suas práticas e formas de gestão gestão podemos discernir de qual visão de mundo elas derivam. Qualquer nível de desenvolvimento pode ser considerado bom pela empresa, a questão é se esse nível de consciência está adequado à tarefa que temos na mão até 2030.
Inspirar um número maior de empresas conscientes: organizações comprometidas com propósitos elevados e que sirvam e contemplem os interesses de todos os envolvidos e das necessidades do planeta. Esse é o nosso propósito.
Simone Faustini é consultora, facilitadora, escritora e mentora em sustentabilidade. Atua na Nexus Consultoria assessorando as empresas a promover relações mais humanas e sustentáveis entre sociedade, meio ambiente e negócios.
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