Em Janeiro de 2016, por meio de um programa de televisão, ouvi falar pela primeira vez sobre Inkiri Piracanga. Uma das 10 eco vilas mais conhecidas no Brasil, localizada na Península do Maraú na Bahia. De imediato me encantei pela beleza, clareza e simplicidade com que as práticas desenvolvidas no local foram explicadas: permacultura, veganismo, agrofloresta, banheiro seco, bioconstrução, compostagem, energia solar, saneamento ecológico, desenvolvimento de produtos biodegradáveis. Essa conduta adotada pela comunidade do vila, além de representar um estilo de vida, tem a finalidade de preservar a esplêndida natureza, o rio e o mar que contornam os seus 3km de território.

 

O meu coração palpitou forte como que informando: você precisa visitar este local. E logo a seguir me distrai pesquisando na internet, compreendendo que o Centro Holístico é uma das suas principais atividades. Nele são desenvolvidos diferentes cursos e imersões visando o autoconhecimento, a conexão espiritual e a projetos voltados ao aprendizado sobre os cuidados com o meio ambiente.

Na reta de chegada para os meu 50 anos, novos pensamentos vem me rodando a algum tempo. O primeiro deles, a dimensão do tempo, que traz um certo senso de urgência e me faz relembrar: o que é mesmo que você sempre quis fazer e deixou para depois? E ter a certeza: o depois chegou, está na hora de começar a fazer.

Como muitas pessoas do chamado 50+, passo por dilemas para me manter ativa com projetos profissionais. Embora trabalhar com sustentabilidade sempre tenha tido um significado de propósito na minha vida. O que fazer com a parcela do segundo tempo que ainda tenho para jogar? É outra questão para qual de maneira surpreendente, não tenho resposta.

Apesar de nunca até aquele momento ter ouvido falar deste local, desde então, Piracanga passou a ser citado com frequência em diferentes situações, se mantendo vivo no meu campo de visão. Passado um ano e meio, neste artigo conto os principais aprendizados da minha jornada pessoal de autoconhecimento, na recente experiência vivida em Inkiri Piracanga.

5 APRENDIZADOS NA JORNADA DO AUTO CONHECIMENTO

  1. Desapego para questionar: quais são as histórias, fatos, sucessos, fracassos que são passados, pesados e me impedem de avançar? Se eu retirar os papéis, status, conquistas, hábitos de consumo, certezas, planos para um roteiro de vida que me acompanham, o que permanece? Estamos conectados com as expectativas e os modelos externos, tudo aquilo que de alguma forma nos diz quem somos: títulos, padrões, reconhecimentos, conquistas, dinheiro. Esses são aspectos do ego que vem de fora para dentro, nos dão um sentido de identidade. Por isso nos apegamos. Quem somos mesmo? Qual a sua verdadeira natureza, qual minha verdadeira identidade?

 

  1. Coragem para a transição: não ter respostas para as perguntas nos coloca em um vazio, uma espaço em branco, desabitado de referências. Este tempo, que pode ser de uma semana, um mês, uma ano ou mais, exige que você conviva com a incerteza, a insegurança, a linha em branco que não descreve qual é o seu próximo passo. Neste período precisamos ter coragem para nos manter assim. Sem saber o que fazer, aliás, ficar sem fazer. A transição nos torna vulneráveis, aquele momento quando sentimos que não somos mais o que éramos, mas não sabemos ainda o que nos tornaremos. A tendência é voltar a praticar os mesmos padrões que nos trouxeram até aqui, porque trazem a velha ilusão de controle e segurança. Alguns rituais nos ajudam a manter a presença, no meu caso, a meditação entrou neste local desocupado.

 

  1. A evolução é orgânica e não linear: a ampliação da consciência ocorre em avanços e retrocessos. Há aspectos em cada um de nós mais evoluídos e outros que precisam crescer. O que preciso aprender com a lição que se apresenta? Nesta relação, com esta pessoa, neste trabalho, com este grupo, fazendo esta atividade, com meus filhos, nesta dificuldade? Enquanto não aprendemos com os desafios que o presente nos traz, a mesma situação se repete, até que a percebamos. É nossa a responsabilidade de enxergá-la, aceitá-la e abrir o pacote – ainda que pareça uma bomba atômica – que a vida oferece para o nosso crescimento. Mesmo com o medo e o com coração na mão, porque deixar a situação de lado não fará com que ela desapareça. O presente é pessoal e intransferível.

 

  1. Passar a vida a limpo: fazer a própria biografia permite compreender os principais marcos da nossa experiência emocional. O que aconteceu que fez com que eu não confiasse na minha capacidade ou perdesse a confiança na vida? Porque utilizo o orgulho como defesa para lidar com o reconhecimento que não tive? Quais situações me machucaram e quais maneiras desenvolvi para lidar com o choro, com a dor, com a frustração, com a tristeza, com o amor que queria e com a atenção que achava que merecia e não recebi? Aos poucos ressignificamos algumas passagens, obtemos novas compreensões de vivências e as integramos com um novo sentido em nosso sistema. Contribuiu para remover o véu de ilusão sobre a história que criei sobre quem sou ou deveria ser. Isso libera um espaço para sermos um pouco mais simples e autênticos.

 

  1. Somos seres espirituais tendo uma experiência material. Somos um potencial divino que se expressa de maneira diferente em cada um de nós. Também trazemos um propósito que tem a intenção de se realizar. Em função da minha racionalidade e de tantos outros fatores, esta é uma lembrança que preciso resgatar com frequência. Por isso, estar em Piracanga foi importante neste momento. Lá tudo é organizado para que a matéria esteja a serviço da conexão com o espírito, com o seu interior. Acredito que assim deva ocorrer em outros retiros. Por isso, compreendo hoje, a importância de conhecermos as diferentes linguagens ou práticas espirituais, até encontrar aquilo que faz sentido para você, que toca seu coração, que alimenta a sua alma.

 

Nesta andança para o autoconhecimento, tantos profissionais e pessoas acrescentaram sua parcela de contribuição para o despertar da minha consciência. A todos eles sou grata. Porque também sei que a caminhada ainda é longa. Nos últimos dois anos, encontrei nos livros e orientações de Prem Baba a coerência que me fez compreender a correlação entre o psicológico, o emocional e o espiritual, que me faltava. Já não posso acreditar que seja força do acaso, ao chegar em Piracanga, com admiração percebi que este líder espiritual, também inspira e orienta toda a comunidade e as atividades do Centro Holístico.

Escrevo este artigo como uma criança da educação infantil que para se apropriar do conhecimento recente precisa fazer a tarefa de casa. A prática da síntese, assim como nos outros artigos que me coloco no exercício de escrever, tem sobretudo este propósito. Sistematizar um aprendizado que para mim é novo, nem por isso inédito. E quem sabe ao compartilhar possa em alguma medida, levar a minha parcela de contribuição para outras pessoas.

Sobre as questões que me levaram a esta imersão de autoconhecimento em Piracanga? Ainda não tenho as respostas. No entanto encontrei tantas outras que não esperava. Hoje sinto a confiança íntima de que elas virão, no seu tempo. Eu só preciso estar tranquila e aberta para enxergá-las e aceitá-las.

“Há uma porta. Não uma que se abre, mas que se fecha, pois é adiante das cancelas cerradas que se iniciam os novos ciclos. Uma perspectiva de que me encarrego. Há por assim dizer um caminho e está todo por ser percorrido.”

 

Simone Faustini é professora, escritora e atua na Nexus Consultoria, assessorando as empresas a promover relações sustentáveis entre sociedade, meio ambiente e negócios. www.nexusconsuloria.com

 

 

Escrito por Nexus