O ano de 2020 começou com Larry Fink, CEO da Blackrock, declarando uma reformulação fundamental das finanças reiterando que responsabilizaria as empresas pelo gerenciamento de riscos climáticos. State Street Corporation, empresa americana de serviços financeiros com operações em todo o mundo segue afirmando que os aspectos sociais, ambientais e de governança não são mais uma opção para a estratégia de longo prazo e anunciou planos para usar sua influência junto as empresas retardatárias.

O Fórum Econômico Mundial em Davos no início desse ano se concentrou no capitalismo consciente com foco nas partes interessadas e nas mudanças climáticas. O debate antes da pandemia já era sobre até que ponto e com que rapidez integrar o ESG – e não se as empresas deveriam fazê-lo.

Iniciamos a crise da pandemia com crescimento exponencial no investimento sustentável. Nos EUA, os fluxos líquidos de fundos sustentáveis atingiram US$ 20.6 bilhões em 2019 mais de quatro vezes o recorde anual anterior que foi estabelecido em 2018. O índice de ações da MSCI World caiu 14,5% em março/20, mas 62% dos fundos globais de capitalização focados em aspectos sociais, ambientais e de governança superaram o desempenho de acordo com dados da Morningstar. Da mesma forma, até dia 23/03/20 a S&P Global mostrou que o S&P 500 ESG Index e o S&P Global Large Midcap ESG Index superaram seus concorrentes.

Em um estudo global de Março/20, a Edelman mostrou as expectativas de 78% das pessoas pesquisadas de que os negócios ajam para proteger os funcionários e a comunidade local na crise da pandemia.

Os negócios sustentáveis e responsáveis são importantes agora – durante a crise – e crescerão em importância à medida que construirmos o “novo normal”.

NO CURTO PRAZO EM QUAIS ASPECTOS ESTRATÉGICOS DE SUSTENTABILIDADE SE DEVE INVESTIR?

Durante qualquer crise, a continuidade dos negócios, a segurança dos funcionários e o fluxo de caixa têm precedência. Além disso, as decisões corporativas de alocar capital no desempenho socioambiental e de governança dependem de três fatores.

  • Primeiro, em áreas socioambientais onde um business plan traga uma redução de custos e a geração de receita em curto prazo.
  • Segundo, onde existem questões éticas ou de reputação imediatas, como por exemplo, fazer o certo pelos trabalhadores e as comunidades.
  • E terceiro, nas estratégias, especialmente aquelas que as estão reformulando em função da crise, porque as questões socioambientais e de governança são essenciais para um negócio resiliente a longo prazo.

NO MÉDIO PRAZO QUAIS FATORES MOLDARÃO O “NOVO NORMAL”?

  • A clareza de propósito da empresa. Isso não vai mudar. As crises separam aqueles que só falam daqueles que realizam ações coerentes às causas que defendem.
  •  O “futuro do trabalho” com um modelo flexível e remoto, impulsionado pela tecnologia e em uma economia projetada para atingir 50% do quadro de colaboradores em regime de contrato terceirizado de até 2027.
  • Os riscos climáticos são cada vez mais urgentes e o escrutínio de investidores, funcionários e clientes sobre como as empresas gerenciam esses riscos aumentará significativamente na próxima década como um indicador-chave da saúde da empresa.
  • Foco crescente em reservas de caixa, ampliação nas capacidades de gerenciamento de riscos, revisão das cadeias de suprimentos globais e estratégias pautadas em governança e nas dimensões socioambientais, para antecipar crises e contribuir com a sustentação do negócio.
  • A privacidade dos dados e a cibersegurança continuarão a aumentar em importância. A ética digital em torno da inteligência artificial e dos dados será fundamental.
  • A inovação responsável separará aqueles que agregam valor a longo prazo dos oportunistas. E em um contexto de intenso escrutínio, todos devem oferecer inovação com responsabilidade nos diferentes setores que exigem tecnologia pautada na ética e em novos modelos de negócios que promovem impacto positivo para a sociedade.
  • Há tendências que não serão revertidas à medida que nos recuperarmos dessa crise: capitalismo consciente e novas economias que respeitem os limites do planeta; novos talentos, impulsionado pela geração milênio e pela geração Z que desejam trabalhar para empresas sustentáveis; consumidores, que cada vez mais tomam decisões de compra baseadas em valores; e o público, que espera que as marcas adotem uma posição clara – especialmente onde os governos não agem como no cuidado aos direitos humanos, igualdade e mudança climática.

Estamos construindo um novo nível de consciência que será expresso em um novo modelo de contrato entre negócios, governança, natureza e sociedade?

Para Larry Fink, CEO da Blackrock, “a pandemia que estamos enfrentando agora destaca a fragilidade do mundo globalizado e o valor de portfólios sustentáveis. Quando nos movermos para fora da crise e ocorrer o reequilíbrio de caixa, teremos a oportunidade de acelerar um mundo mais sustentável”.

Os líderes empresariais têm uma oportunidade única, neste momento, de construir um “novo normal”. Aqueles que responderem a esse chamado para um futuro de forma responsável e sustentável, prosperarão com isso, além de tornarem o mundo um lugar melhor para todos, inclusive, para as suas próprias organizações.

Simone Faustini é consultora, facilitadora, escritora e mentora em sustentabilidade. Atua na Nexus Consultoria assessorando as empresas a promover relações mais humanas e sustentáveis entre sociedade, meio ambiente e negócios.

Escrito por Nexus